domingo, 18 de maio de 2008

Ningém se conhece a Si Mesmo


Todos os dias desde o momento em que acordamos e nos apresentamos ao Mundo e aos outros somos sujeitos, apesar de nos agradar ou não, a julgamentos.
Por mais que as pessoas queiram afirmar que não julgam sem conhecer, que não rotulam sem saber, mal nos põem os olhos em cima dão-se ao direito de tecer um pensamento a nosso respeito, põem-nos como que uma etiqueta na testa que nos identifica perante um grupo e que nos insere numa espécie de estante onde estão arrumados aqueles a que nos consideram semelhantes... Funciona como uma espécie de memória selectiva talvez...

Agora eu questiono: Quem deu a essas pessoas o direito de me qualificar?? ou melhor... Até que ponto é que eu própria me conheço a mim mesma para me defender das etiquetas e rótulos, dos lugares menos adequados na prateleira da Sociedade??

Por mais que pense e tente argumentar as minhas próprias divagações cada vez mais me convenço que nem eu me conheço a mim própria porque a cada dia que passa, a cada situação que se me apresenta descubro em mim novas formas de lidar, de agir, que até então não conhecia sequer a existência. Desvendo novos comportamentos, novas reacções que nem sempre se encaixam naquilo que sempre considerei como princípios...
A vida a cada dia ensina-nos coisas novas a nosso respeito, torna-nos mais aptos, mais fortes, mais adaptados... falta saber se no meio de tudo isto não nos perdemos numa espiral sem fim, num labirinto sem retorno... Se não nos destruimos sem saber como nos construir de volta...

"Julga que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira?
Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente.
E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim.
E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como?
Construindo-me, precisamente... "
Luigi Pirandello, in "Um, Ninguém e Cem Mil"






Um comentário:

Zlati disse...

"Agora eu questiono: Quem deu a essas pessoas o direito de me qualificar??"

Já me perguntei o mesmo milhares de vezes...apesar da minha pergunta ser mais "Quem deu a essas pessoas o direito de me julgar?" Qualificar..julgar..parece que vai dar tudo ao mesmo - ou talvez não. Não sei se vais concordar comigo, mas é um bocado inevitável não qualificarmos os outros de alguma ou outra forma. Quando conhecemos uma pessoa nova nunca ficamos completamente indiferentes, há sempre uma primeira impressão que se forma - a pessoa parece ser simpática/acessível/arrogante/agradável/descontraída/tímida/inteligente ou nem por isso, etc.etc.Isso tudo é uma forma de qualificar o outro. Se as primeiras impressões mostram o que as pessoas realmente são...isso já é toda uma história diferente. (para mim nem as 1as, nem as 2as, nem as 3as).É preciso muito mais do que isso para conhecer uma pessoa como ela é na realidade (e mesmo assim, acredito que nunca conhecemos a ninguém a 100%...nem a nós próprios, quanto mais aos outros)Mas que formamos essas impressões e qualificamos - acho que posso dizer que toda a gente faz isso. Alguns limitam-se a pensar para si, outros verbalizam. Eu não vejo mal nenhum nisso, desde que não se passe ao passo seguinte, que é julgar a alguém que mal conhecemos por aquilo que ele supostamente é. De facto, ninguém tem o direito de fazer isso.
Uma boa semana para ti!beijinho*